As memórias do passado e a diversidade criada pela natureza são destruídas a cada dia.
Não se respeita nem a História
(as tradições e obras das gerações anteriores)
nem a Natureza
Para que as futuras gerações tenham uma idéia da riqueza do que foi produzido no planeta,
para que sobrevivam amostras de todos os valores produzidos
pela Natureza ou pela História,
é necessário definir esses patrimônios,
que são áreas consideras intocadas,
protegidas,
resguardadas
contra a ambição...”
Palmiro Sartorelli Neto
Com o desenvolvimento de Canoas várias foram as transformações que nem sempre respeitaram a memória cultural e natural da cidade. Cabe a nossa geração preservar o que ainda resta para as gerações futuras, como nos é garantido na Constituição Federal: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
Cada vez mais se verifica que as mudanças e as transformações das cidades são importantes e salutares, desde que se estabeleçam regras. É necessário que o poder público estimule a preservação do patrimônio da cidade para garantir que os avanços tecnológicos, urbanísticos e arquitetônicos pelo qual deva passar a localidade mantenham protegido o bem comum.
Equívocos históricos de dilapidação vem se repetindo na promessa de melhoria da qualidade de vida da população, que na realidade comprometeram significativamente o patrimônio natural de Canoas. Os acontecimentos na Vila Mimosa e na Fazenda Guajuviras em 2008 são exemplos. Outros são o que vem acontecendo com a Fonte Dona Josefina e no entorno do Arroio Araçá com o crescimento dos residenciais e condomínios fechados. Sem a preservação pública na figura do tombamento o patrimônio de bem comum fica desprotegido e nas mãos de interesses particulares. O tombamento tem se mostrado uma importante ferramenta neste sentido, para conter os já conhecido efeitos dos grandes empreendimentos que tanto tem prejudicado a preservação de culturas, do meio ambiente e a urbanização das cidades.
Preocupados com a rápida degradação e sabedores de novas propostas que estão por se implantar em Canoas, como novo Parque Industrial, e as Rodovias do Parque e do Progresso, verifica-se a necessidade de um planejamento integrado de desenvolvimento das regiões na cidade. No intuito de contribuir destacamos o seguinte:
1. PATRIMÔNIO NATURAL
O patrimônio natural compreende áreas de importância ‘preservacionista’ e histórica, áreas que transmitem à população a importância do ambiente natural para que nos lembremos quem somos, o que fazemos, de onde viemos e, por conseqüência, como seremos. Quem não tem na lembrança histórias que envolvam a paisagem? Todas estas lembranças fazem parte da nossa história. Perde-las é, além de dano ambiental irreversível, uma perda da memória da cidade e, acima de tudo, a perda da qualidade de vida da população. A preservação tem sido discutida mundialmente e o tombamento de áreas naturais vem ao encontro dessa nova visão ‘preservacionista’.
Além da Fonte Dona Josefina com toda a sua memória, uma das nascentes que ainda restam e que alimentam o Araçá, podemos citar outro ponto do arroio que tem valor natural relacionado com o cotidiano do Quilombo de Canoas, Chácara das Rosas, no entorno do Araçá, na avenida Inconfidência, registrado no Relatório da Comunidade no INCRA.
Na preservação do patrimônio, é necessário conservar vários registros da vida da população para entender seu modo de viver, pensar, crer e produzir numa determinada época e lugar. Quanto mais documentos, indícios, testemunhos e registros afirmarem que o fato ocorreu, maior a certeza científica da verdade dos fatos que eles revelam. A vida em sociedade deixa marcas, registros, documentos, fontes de pesquisa cujos registros ordenados são documentos, pois a comparação entre eles lhes atribui status de registros sobre fatos verdadeiros.
O Projeto do Araçá vem reunindo testemunhos como na pesquisa realizada pelo La Salle publicado com o título Canoas para lembrar quem somos; no Relatório do Quilombo das Rosas e em recortes de jornais antigos, mostrando o trabalho do falecido professor Fernando Gossmann e da ASCAPAN, e que esta defesa não é de hoje.
Pode ser definido como um bem material, natural ou imóvel que possui significado e importância artística, cultural, religiosa, documental ou estética para a sociedade. Estes patrimônios fizeram parte das sociedades passadas, por isso representam uma importante fonte de pesquisa e preservação cultural.
Canoas iniciou sua história com estâncias de veraneio por ser uma região com potencial natural privilegiado. A urbanização e a alteração dos recursos naturais desencadeou um processo de degradação ambiental cujos efeitos são sentidos ainda nos dias atuais e requerem a adoção de medidas urgentes para minimizar principalmente porque influenciam na qualidade de vida.
Em virtude do acima descrito consideramos este manancial, com toda sua biodiversidade, também, um patrimônio cultural da cidade. O texto da constituição federal de 1988, em seu artigo 216, já reconhecia a dupla natureza material e imaterial dos bens culturais, estabelecendo tanto o tombamento quanto o registro.
É de fundamental importância que comecemos a explorar, no meio acadêmico e técnico, uma estrutura pública de cuidado com esses bens culturais, que possam organizar:
1- Inventário, pesquisa, registro e difusão de bens histórico-culturais que envolvem o arroio, como, por exemplo, a Fonte Dona Josefina: 2- Publicação de obras de referência sobre o Araçá; e 3- Projetos educacionais que contribuam para a transmissão dos conhecimentos tradicionais e para a preservação dos aspectos físicos e ambientais que dão suporte à existência de manifestações do patrimônio imaterial. O Projeto do Rio Guri vem fazendo a sua parte.
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