Nosso Rio Guri

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domingo, 23 de maio de 2010

Pela permanência das feições naturais dos arroios

O Projeto do Arroio Araçá nasceu entre 2004 e 2005 quando moradores do residencial Hércules, no Bairro Estância Velha, verificaram que moravam ao lado de um arroio que não era por eles conhecido, e que muitos chamavam de valão. Envolvendo escolas, a associação e demais moradores da cidade passaram a reunir os materiais que encontravam sobre a história do município com aquele manancial. Ao mesmo tempo suas nascentes e seus afluentes iam sendo aterrados e canalizados, num processo rápido de urbanização. Muito mais rápido do que o de conhecimento sobre sua bacia hidrográfica. A idéia de proteção nasceu da pesquisa quando, na internet, foi localizado um texto sobre o Arroio Dilúvio dizendo que arroio não é valão. Era preciso correr muito para estancar o processo de 'enterramento' destas vidas que agonizam pela nossa falta de conhecimento, sensibilidade e responsabilidade.
É um processo necessário, urgente e contínuo.

Em 2008 inicia-se o projeto sobre o Arroio Dilúvio - “Habitantes do Arroio: estudo de conflitos de uso de águas urbanas, risco, saúde pública e comunidades étnicas em Porto Alegre-RS” é um projeto de pesquisa e ação, voltado para a descoberta das situações de conflito e interdependência entre grupos sociais diversos, instituições e técnicos de diversas áreas envolvidos cotidianamente com os usos (e abusos) das águas do Arroio Dilúvio, em Porto Alegre. O projeto é financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), sendo executado pelo grupo de pesquisa Banco de Imagens e Efeitos Visuais (BIEV – Laboratório de Antropologia Social – UFRGS) e pela ONG Instituto Anthropos, com o apoio da Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Rio Grande do Sul (SEMA-RS). A pesquisa se vale da produção e da exibição de documentários, relatórios e narrativas visuais sobre as condições ambientais dos recursos hídricos em questão contrapostos à diversidade sócio-cultural de representações simbólicas, ethos e visão de mundo das populações que habitam a microbacia do Arroio Dilúvio quanto aos usos do solo e da água, visando à valorização do Arroio Dilúvio e do seu ecossistema como bem comum e essencial a toda a cidade.

...as negociações quanto ao solo urbano são mediadas pelo Município, pela Prefeitura. Ainda hoje, o direito a um saneamento adequado, e as obrigações quanto à destinação correta de efluentes são colocadas a partir de leis federais, enquanto que a gestão deste saneamento cabe ao município. Vemos se processar contemporaneamente esta lógica inversa em muitas cidades do Brasil, atingidas por cheias: a situação de emergência, de calamidade pública convoca o Governo Federal a tomar medidas para remediar a tragédia, os prejuízos. São certamente negociações políticas, mas pode-se também perguntar qual o papel dos demais atores nesta interdependência. Certamente, o reconhecimento desse processo de impermeabilização do solo por parte de quem volta seus projetos de construção para as regiões em torno dos arroios é fundamental, do empresário da construção civil, passando pelo futuro morador de um prédio, até o morador que constrói sua casa com a ajuda de sua rede de vizinhança.
...dessa luta contra a água e as áreas naturais no processo de urbanização que marca a memória ambiental de muitas cidades..., como inverter essa lógica conquistada do concreto sobre a terra a água? Sanear não é necessariamente “limpar”, mas a oposição entre a limpeza e a sujeira, como nos ensina a Antropologia, nos convoca a repensar a ordem do universo, a forma como ordenamos esse arranjo de moradas, avenidas e arroios.

Na alternativa contemporânea, de “renaturalizar” arroios no mundo inteiro,...não é mais necessário canalizar, “enterrar” arroios na cidade...
...novas possibilidades se apresentam contemporaneamente. A virada possível no saneamento contemporâneo é a necessidade de manter, ao longo dos arroios, a mata nativa, a vegetação constantemente cuidada, espaços largos onde a água da chuva que transborda possa ser absorvida. Ainda que se possa construir muros de contenção, diques e outras soluções, a permanência da feição “natural” do arroio, sua inserção no conjunto das obras das vias urbanas, dos espaços destinados à construção civil é fundamental, ou seja, uma nova urbanização se configura neste sentido.

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