Nosso Rio Guri

Nosso Rio Guri

domingo, 31 de março de 2019

Nascentes Urbanas - Parceria em Projeto para Dona Josefina

No ano de 2018 nasceu a proposta do Projeto Vertentes Urbanas: educando para a ecocidadania, fruto da construção coletiva entre Parceiros Voluntários Canoas, Associação Grupo Chimarrão da Amizade, Universidade Luterana do Brasil – ULBRA, Projetos Arroio Araçá, Nosso Rio Guri, Biodivercidade, entre outros, buscando o desenvolvimento de políticas e práticas socioambientais na  comunidade Canoense.
Dentre várias propostas pelos quatro quadrantes da cidade um grande foco do projeto é a preservação da água, por isso também o nome Vertentes Urbanas. A questão da água é um problema crítico e global, estando seu foco entre os 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU 2015/2030. Canoas é banhada por dois dos rios que estão entre os mais poluídos do Brasil (Rio dos Sinos o quarto rio mais poluído seguido do Rio Gravataí que é o quinto, segundo dados do IBGE de 2013). E, também, por dois arroios na divisa com as cidades de Esteio e Cachoeirinha. Além disso possui cerca de 70 nascentes, muitas sendo ainda mapeadas. Há os arroios que correm somente dentro do município, entre eles o Arroio Araçá que atravessa a cidade contribuindo com a composição dos quadrantes, pois é ponto de divisa entres bairros.
Para ir ao encontro dos objetivos para o desenvolvimento sustentável (ODS), em relação as problemáticas e valorização da água, o projeto propõe a criação e revitalização dos espaços naturais, sendo um dos focos a nascente histórica - a Fonte Dona Josefina. 
 Foto antiga
Imagem atual
Esta nascente contribui com suas águas para o fluxo do Arroio Araçá, que desemboca no Parque Delta do Jacuí, uma das unidades de conservação e proteção integral do Estado. Além disso a Fonte possui fatos ligados a história do Município e do Estado, sendo utilizada como ponto de encontros e conhecimento do espaço natural e cultural. Percebe-se, também, uma necessidade de se catalogar a biodiversidade da flora e da fauna que se estabelecem na colina onde a nascente surge, em plena cidade, chamando a atenção para esta área, de transição entre dois biomas: Mata Atlântica e o Pampa. Portanto, somente nestes itens, já demonstram a riqueza e interdisciplinaridade da proposta.
Este é um importante espaço público no Bairro Estância Velha, e está sujeito a riscos de vandalismo e depredação. Ao lado há um posto do INSS abandonado, na Av. Santos Ferreira, que se encontra repleto de lixo, inclusive já está descendo para o local onde o riacho escoa, num risco tremendo de contaminação.
Foto tirada do posto abandonado, logo abaixo está a área úmida do fio d'água que verte da fonte.
Em uma das visitas organizada com professoras em 2018 pelo Projeto Rio Guri, para mostrar a nascente às crianças, percebeu-se que o local se encontrava em precárias condições, com muitos tipos de resíduos, mato alto e muretas pichadas. Não foi possível usar a praça como normalmente o Projeto faz para o trabalho de Educação Ambiental. Seguidamente é necessário uma manutenção local.
Neste período as instituições já estavam iniciando o projeto Projeto Vertentes Urbanas e foi debatido tais condições, surgindo daí a proposta de incluir a busca por verbas para revitalizar o ambiente, preservando a nascente e o fio d´água, incluindo trilhas, estruturando a praça com verdadeiras salas de aula na natureza, identificando fauna e flora local e recuperando os caminhos da história, formando um novo espaço socioambiental e turístico na cidade. Para isso teve a parceria de escritório de arquitetura que projetou belos cenários para o local.
Além desta revitalização com decks de madeira direcionando a trilha, há a criação de um pórtico de entrada voltada para a avenida Santos Ferreira, cuja criação para o Projeto Vertentes Urbanas teve a colaboração do artista plástico canoense Vinício Cassiano, criador de várias obras na cidade. A arte se inspira na imagem original da Fonte Dona Josefina criada por Antonio Lourenço Rosa, que colocou o nome de sua esposa na obra.
Artista Cassiano junto a fonte atual e a Imagem original  retirada do livro 
Canoas Para Lembrar Quem Somos  Unilasalle/1997 
No livro a senhora Eduwiges Soares de Jesus, conhecida como Dona Diva, que veio menina pelos anos 20 morar na Estância Velha, relata sobre as belezas da fonte: “Ela (a fonte) é de 1904. Era uma vertente toda fechada. Tinha dois canos que vertiam sempre água para fora. Em cima tinha uma casinha, uma mesa e um banco de cada lado. Tinha uma escadaria que fazia a volta e ia na vertente. Era tudo plantado flor dos lados [...] surgiu a água encanada e abandonaram essa aí [...] em tempo de seca ela nunca secou [...]”. 

O pórtico projeta a imagem do casal Rosa dentro do monumento no formato da fonte original. No mesmo pórtico o projeto planejou colocar os versos do poeta canoense Etevaldo Silveira, já falecido, criados por ocasião de sua participação em um evento realizado na fonte, nas comemorações do mês das águas e da mulher, noticiado aqui no blog do Projeto Rio Guri.
A poesia Fonte Josefina e o poeta Etevaldo declamando na praça da nascente.
Uma reunião de fatos históricos e culturais estão contemplados no Projeto Vertentes Urbanas. Para além disso é uma bela e importante proposta interdisciplinar de Educação Ambiental a ser desenvolvida pelos quatro quadrantes da cidade. Ele concorreu ao Edital do Programa Socioambiental Nacional da Petrobras em 2018, e não foi contemplado. Continuaremos buscando por mais apoios. 
Nossa natureza, nossas águas e Canoas, nossa Terra, merecem.

Um comentário: